16.1.11

Sangue e lágrimas

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 28 de agosto de 1999

O que representa a vida para você?
Lutar pela sobrevivência, criar os filhos, conquistar conforto, viajar, ajudar ao próximo, gerar empregos...
Tantos sonhos impulsionam as nossas ações. Tanta gente caminha conosco nestas buscas: família, funcionários, amigos...
De repente, um desconhecido, na ambição do dinheiro fácil, lhe aponta um revólver, furta as suas economias, tira a sua vida e os sonhos acabam.
Ao saber do trágico fim do comerciante Telmo Arnaut, assassinado domingo passado, voltou a minha cabeça o drama que a minha família viveu há três anos. Meu pai, ao enfrentar um assalto, foi baleado e por pouco não morreu. Sobreviveu, voltou a velha forma, mas o trauma que o episódio lhe impôs, deixou um silencioso sofrimento como herança.
Mas, o tempo passa, as histórias se repetem, vidas são perdidas enquanto governos e opinião pública continuam buscando soluções poéticas para lidar com a segurança.
Campanhas demagógicas como o desarmamento da população; divulgação de estatísticas mentirosas; jogo de empurra para confundir sobre quem são os verdadeiros culpados por esse caos, representam apenas algumas das estratégias de governos fracos e temerosos de encarar o problema.
É preciso aceitar. O criminoso não é burro. Na sua concepção, ele conclui que vale o risco da investida, considerando que prossivelmente a vítima não oferecerá resistência e que a punição, se existir, poderá ser relaxada com jogadas jurídicas. Além disso, ainda há a possibilidade de fugir da cadeia, caso efetivamente seja preso.
Assim, creio que para dissuadir bandido, só usando a linguagem que ele conhece: rigoroso policiamento preventivo e ostensivo. Valorização da profissão de policial, com investimentos maciços não somente em viaturas mas em salários, modernos equipamentos de comunicação, cães policiais, cavalaria, treinamentos, etc.
Mesmo assim, o assaltante precisa temer o cidadão comum. Não há efetivo suficiente para cobrir todas as ruas de todos os bairros a todo momento.
Para se ter uma idéia da complexidade necessária para operações policiais, basta observar a competente ação da PM de Ubatuba, que prendeu os assassinos de Arnaut. Praticamente 10 policiais foram mobilizados entre os esforços de socorro ao comerciante e a perseguição aos 2 criminosos que tentaram a fuga em uma motocicleta. Veja bem: 10 homens para uma operação gerada por 2 homens. A ação da polícia, para dar resultado, requer sempre equipamento e efetivo.
Com esta realidade, querem desarmar a população, sendo que na grande maioria das vezes (estatísticas sérias) as armas envolvidas em episódios de violência não são aquelas de propriedade e registro de cidadãos de bem, mas as que são provenientes de assaltos à organismos que contratam vigilantes particulares ou de contrabandos que os governos não conseguem controlar.
Sempre haverá homens bons e maus. Não é possível, porém, que os homens bons desistam de impor seus princípios ficando acuados e deixando-se dominar por um sentimento de impotência. Seria o fim dos homens bons. Os bandidos pensarão duas vezes antes de praticar o crime se tiverem dúvida quanto a posse de armas por cidadãos honestos e se souberem que sofrerão uma rigorosa punição por seus atos intolerantes e covardes.
Aos ferrenhos defensores do desarmamento, peço que considerem a minha opinião como o ponto de vista de quem já viveu o drama de uma agressão desse tipo. Não quero o rótulo de reacionário, porém, prefiro correr o risco de levá-lo do que não escrever o que penso. Saliento ainda que a posse de armas a que me refiro é aquela que exige rigoroso treinamento prévio além do devido registro nos organismos policiais. Há ainda que se considerar que, com o acelerado avanço tecnológico, em breve as armas de fogo serão substituídas por armas de raios paralisantes. Nesta ocasião, podem contar comigo para qualquer campanha de aposentadoria das armas atuais. Já teremos, então, algo mais seguro.
Termino, estendendo os meus pêsames à toda a família Arnaut, vítima não da fatalidade, mas da absoluta falta de segurança que atinge a todos.

O bem e o mal
Danilo Caymmi