13.2.11

PHE

Celso de Almeida Jr.

 

Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba, 13 de novembro de 1999

Há experiências extremamente gratificantes.
São aqueles fatos ou épocas que deixam marcas em nossas vidas.
Geralmente, diversas pessoas colaboram para isso e, normalmente, passam a acompanhar nossos pensamentos por toda a existência.
Tive a sorte de vivenciar um desses momentos quando presidi o Centro Cívico da Escola Estadual Capitão Deolindo de Oliveira Santos, em 1983.
Convidado pelo saudoso professor Simeão e acompanhado por amigos queridos, tivemos o aval de alunos e professores da maior escola de Ubatuba para implantar o PHE.
O Plano de Humanização Escolar foi uma ideia genial sugerida pelo professor Lélis Teixeira Leite que previa, como missão maior, transformar a escola num ambiente agradável aos alunos, professores, pais e funcionários.
O Centro Cívico Escolar(CCE/1983) era composto por um time de alunos muito unidos.
Tínhamos consolidado nossa amizade ao longo dos três anos do colegial.
Conhecíamos muito bem nossas qualidades e defeitos.
Nossa comunicação podia ser feita através de um simples olhar.
Esse entrosamento foi percebido e valorizado pelos professores e pela diretora, D. Eunice.
Tínhamos nela o apoio necessário para movimentar os estudantes e contagiar as famílias.
Essa integração, quase espontânea, deu resultados maravilhosos.
De fevereiro a dezembro tínhamos realizado a Grande Gincana União, que marcou época na cidade; construímos o palco do colégio; instalamos um estacionamento para bicicletas; reformamos carteiras e cadeiras; pintamos a escola; inauguramos um salão de recreação; recuperamos jardins; criamos a horta; adquirimos equipamento de som; pintamos tabuleiros para damas e xadrez em muretas ociosas; promovemos bailes, peças teatrais, shows, jogos, campeonatos e festas, alegrando a comunidade escolar.
O Cap. Deolindo era frequentado por alunos de outros estabelecimentos que orgulhavam-se de participar das atividades que promovíamos.
Tínhamos o respeito de todos e procurávamos corresponder com uma conduta correta.
Admirávamos, entre tantos colaboradores, o seu José Amorim.
Ele, silenciosamente, mantinha a limpeza e a manutenção dos jardins, da horta, recolhia as folhas, trabalhando com eficiência e sem alarde.
Lembro que nos dias mais difíceis, quando batia o cansaço, costumávamos comentar:
"Olho no seu Zé! Ele quietinho tem feito mais do que todos. Força pessoal!"
Certamente, foi um dos anos mais felizes de minha vida.
A base daquela experiência ocupou parte do meu pensamento e do meu coração fazendo-me acreditar que é possível melhorar o ambiente escolar.
A ideia do PHE, a união do CCE, o incentivo dos professores, a firmeza da direção, o envolvimento das famílias e a vontade dos alunos permitiram a melhoria do colégio.
Tínhamos aliados por toda parte, facilitando as conquistas.
Nossa pureza e inocência não vislumbravam interesses específicos.
Sabíamos que estávamos terminando o 2º grau e, portanto, encerrando o nosso relacionamento diário com aquelas pessoas.
Nossas ações correspondiam a uma despedida.
Partiríamos brevemente mas, antes, tínhamos muito o que fazer como gratidão à dedicação de nossos mestres e amigos.
Talvez esta sinceridade de propósitos tenha sido o motivo do envolvimento de tanta gente.
Hoje, quando vemos o grande número de jovens ubatubenses, sentimos a necessidade de criar, cada vez mais, opções de cultura e lazer para atendê-los.
A desocupação tem gerado a busca por alternativas destrutivas como as drogas e a violência.
É difícil oferecer atividades saudáveis para a juventude?
Claro que não!
É preciso, porém, um mínimo de boa vontade.
A tarefa dos adultos é estimular e amparar.
O resto é com a garotada.
A obrigação dos adultos é auxiliar no planejamento.
A ação é com os jovens.
É necessário aos adultos atuar com dedicação.
Aí está o problema!
Faltam homens como José Amorim.
Sobram homens chorões e preguiçosos.
Há também os que ajudam para se auto-promover.
Geralmente, são políticos.
O resultado é o que se vê.
Uma sociedade que não consegue administrar o bem estar de seus menores, criando pessoas desorientadas, desamparadas e que não conseguem sonhar.
Sempre é tempo de valorizar nossas crianças e adolescentes.
Você tem feito a sua parte? 

A Saudade Mata a Gente
Dick Farney
Wilson Simonal