20.2.11

Sem vencedores

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 20 de novembro de 1999

Com o afastamento de Zizinho Vigneron da função de prefeito de Ubatuba confirma-se um dos mais trágicos capítulos da história política do município.
Vale rememorar. A campanha que conduziu Vigneron à prefeitura foi uma das mais bonitas que a cidade já viu. Um verdadeiro exército formou-se em torno da figura de Zizinho acreditando que ele saberia conduzir a cidade por novos caminhos: seriedade administrativa, canal direto entre povo e governo, austeridade financeira e busca de investidores foram algumas das expectativas criadas ao longo da campanha.
A vitória esmagadora deu ao prefeito eleito todas as condições para promover uma revolução no município, preparando-o para o futuro.
Para quem é avesso à política, torna-se necessário explicar: neste país, as portas abrem-se com maior facilidade para políticos com boa expressão eleitoral. Portas importantes: Secretarias de Estado, Ministérios, bancos, grandes investidores, enfim pessoas e instituições interessadas em aplicar recursos numa cidade conduzida por quem tem respaldo popular, o que, normalmente, gera segurança para o investidor. Uma conduta questionável, mas é a que tem valido.
Zizinho teve essa chance. Vacilou, porém.
Jogou pelos ares, em poucos meses, todas as aspirações que criou nestes muitos anos em que lutou para alcançar a prefeitura de Ubatuba.
Mas como foi possível para um homem considerado culto cometer tantos erros consecutivos, angariando um dos mais altos índices de rejeição que a cidade já viu?
Zizinho revelou o quanto é falso o conceito de que apenas pretensos iluminados mereçam conduzir os destinos de um povo. A bagagem cultural de Zizinho é inegável. Mostrou ter cultura mas faltou-lhe inteligência. Portou-se como alguém num voo cego. Acreditou que sabia mais. Por saber mais, poderia sozinho dar o melhor para o município. E para "salvar sua Ubatuba" as leis não importavam, as pessoas não importavam. Nada importava pois a cabeça dele e só a dele sabia discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal, a ordem e o caos.
Hoje, as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público parecem indicar que Zizinho valeu-se de uma trapaça para conseguir homologar a união de seu partido com o PPB, na época sob o comando de Rogério Frediani, o maior financiador de sua campanha. Como ele teria descoberto tardiamente que o PMN não autorizava coligação com o PPB, ao invés de trocar de vice, pulou para o PRP, desrespeitando o prazo legal e garantindo assim o casamento e o dinheiro do noivo político. Se a Justiça confirmar que ele arriscou jogar seu passado e futuro numa aventura desse tipo imagine o que já fez enquanto prefeito. O candidato Zizinho contou com a confiança de muitos amigos quando negou ter envolvimento no nebuloso e absurdo gesto da rasura dos documentos da Justiça Eleitoral que registravam a data de sua filiação partidária. O prefeito Zizinho parece estar revelando quem verdadeiramente é. Àqueles que tentaram manchar o meu nome e o de minha família quando pedi demissão do cargo de Secretário de Administração da prefeitura, em abril de 1997, peço que gravem a frase: A Verdade sempre aparece!
Ao prefeito que se afasta faltou humildade para perceber que o poder é transitório. Faltou responsabilidade para avaliar os desdobramentos de suas ações como candidato e como chefe de governo. Faltou serenidade. Faltou equilíbrio. A nós, resta a convicção de que não houve vencedores. Existiu um revés nos sonhados novos caminhos. Mas eles são reais e estão aí esperando Ubatuba para trilhá-los.
Ao Zizinho a minha expectativa de que reflita e enxergue o que fez. Mantendo-se no cargo via medida judicial ou saindo em definitivo terá, mais do que ninguém, que encontrar um novo caminho. Ao começar a percorrê-lo perceberá a discórdia e o desmantelamento administrativo que vinha promovendo em seu governo. Quando esse dia chegar, possivelmente será uma pessoa mais humilde. Nessa hora dará mais valor àqueles que não se afastariam dele, mesmo nesse amargo momento, caso soubesse o significado da palavra amigo. E na expectativa de colaborar para a sua necessária mudança deixo como dica um pequenino texto que selecionei: "Lembra-te que o coração do amigo é coisa bem frágil e que se deve ter com ele o cuidado que se tem com as coisas frágeis. Pois o coração do amigo, uma vez ferido, é como o vidro que, uma vez quebrado, não pode mais ter conserto."

Let me sing, let me sing
Raul Seixas