9.3.11

Bom de rolo

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 25 de dezembro de 1999


"Para escrever bem, é preciso sofrer, sofrer."
Esta é a visão de um dos maiores escritores da humanidade, o russo Fédor Mikhailovitch Dostoiewski. Por analogia podemos concluir que Ubatuba deve ter bons escritores. Afinal, como sofremos...
A humilhante situação da semana passada, com o prefeito driblando a Justiça, fazendo com que a grande imprensa divulgasse o caos político da cidade, só aumentou nossa amargura.
Desviar de Oficial de Justiça é jogada manjada por quem comete pecados legais. Alguns advogados até recomendam o sumiço como alternativa momentânea. Certo ou errado, são manobras jurídicas que emperram ou aceleram os processos, confome os interesses.
Mas no caso do prefeito, ficou chato. Estivesse Zizinho em Tóquio, Paris, Pelotas ou na Patagônia, o que deveria fazer? No mínimo, uma entrevista por telefone. Imediatamente, deveria pegar um avião, um trem, um táxi ou uma asa-delta e voltar à terrinha. Apresentar-se à Justiça. Acatar, com humildade, a determinação legal. E correr atrás do prejuízo.
A tarefa básica de um prefeito é cumprir as leis, rigorosamente.
Seu exemplo é o que importa. Sua conduta deveria ser referencial para os jovens, para as famílias, para as empresas, para todos.
Seu desaparecimento causou constrangimento, revolta e problemas burocráticos. O prefeito tem a caneta. Sua assinatura é necessária para fazer a máquina andar. Zizinho não quis passar o bastão. Manhoso e caprichoso insistiu no sofrimento coletivo. Quis compartilhar sua dor conosco. Quis nos ver de queixo na lona, como ele. Sinceramente, cansei de ser sutil. Quero que ele vá...vender sorvete!
Agora, pensando com frieza, o afastamento de Euclides, o teimoso, em plena temporada de verão, é motivo para pânico?
Você concorda que a segurança pública é responsabilidade da Polícia Militar, que nunca fugiu da raia nessas horas? A instituição Polícia continua firme, subordinada ao Estado, preparando-se para a temporada com as dificuldades de sempre. Mas cumprirá o seu papel. Fará o máximo, dentro de suas possibilidades.
E a água? E a luz? Respostas com a Sabesp e a Elektro, empresas sérias, cientes de nossos problemas, que atenderão ao forte consumo de acordo com suas previsões e investimentos anteriores.
E o trânsito? O planejamento para o trânsito da temporada se não foi feito até agora deve passar a integrar o currículo das coisas não pensadas por Euclides, o sonolento. Mas não creio que ele tenha dormido também nesse ponto. Seria demais. Na dúvida, vou engraxar a bicicleta.
E as chuvas? Com a palavra a Defesa Civil. Por acaso, ao longo dos anos, foram treinados voluntários para agir em situações emergenciais? Temos planos prontos para abrigar famílias que sofram os prejuízos de possíveis enchentes? Já foram cadastrados proprietários de veículos, dispostos a ajudar em caso de retirada emergencial de utensílios domésticos, móveis e outros pertences? Eles concordaram em atender chamadas à qualquer hora da madrugada? Anotaram seus telefones?
E as estradas? Respostas com Mário Covas e Geraldo Alckmin, pessoas inteligentes e conscientes da gigantesca massa de seres humanos que se deslocará para o litoral. A responsabilidade exige que eles mantenham o aparelho estatal à nossa disposição.
E o lixo? Tem crédito em algum posto de combustível? Então, convide donos de caminhões basculantes pelo rádio. Faça um planejamento de coleta rigoroso, 24 horas por dia, em turnos. Ofereça um pagamento atrativo. Treine coletores. Equipe-os com luvas, botas e uniformes. Alimente-os. Pendure faixas nos caminhões: "A serviço da prefeitura. Coleta emergencial. Ajude. Mantenha a cidade limpa."
Vá por mim. Administrar uma cidade não é tão difícil como querem que você pense. Não é preciso ser bom de rolo. Basta não se meter em rolos. E trabalhar bastante!

PS: Desejo um Natal com paz, amor e muita esperança a todos.

Urubu Malandro
Louro
Paulo Moura e os Batutas