19.3.11

Passado para o futuro

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 04 de março de 2000


Muito já foi dito sobre Washinton de Oliveira, o "seu" Filhinho.
A velha guarda ubatubense o reverencia.
Sabem de sua sabedoria política.
Conhecem a sua integridade.
Lembram de sua farmácia.
Guardam, num canto especial do coração, todos os gestos humanitários que este notável Cidadão Ubatubense proporcionou.
Filhinho é daqueles políticos semelhantes a filósofos.
Seus textos esbanjam sensibilidade e retratam, com fino humor, o dia-a-dia de Ubatuba, nos chamados bons tempos.
Minha geração já conheceu Washinton de Oliveira como lenda.
Não conheci o Filhinho no embate político.
É difícil imaginar que um homem como ele tenha tido adversários.
Mas, naturalmente, teve.
Fez política; foi prefeito em 1936 e 1945; teve um estabelecimento comercial; destacou-se por sua inteligência, logo despertou curiosidade e, consequentemente, aliados e concorrentes.
Coisas da vida.
Eu gostaria muito de ter vivido sob uma administração sua.
Já pensou o "seu" Filhinho prefeito agora?
Imagine que a idade não tivesse lhe tirado a energia juvenil.
Imagine seu corpo com força suficiente para encarar essa empreitada.
Quanta coisa boa assistiríamos!
Quanta sabedoria o experiente político distribuiria aos munícipes, promovendo a harmonia, gerando progresso, acalmando os ânimos.
Não queria apenas a lenda.
Queria ter visto suas ações.
Não queria apenas suas belas histórias escritas.
Queria o testemunho de sua palavra.
Não queria o Documentário de Ubatuba como apenas uma referência aos nossos estudantes.
Queria vê-lo discursando nos quatro cantos da cidade as mais notáveis passagens do povo ubatubense.
Não queria apenas olhá-lo distante em sua varanda.
Queria cumprimentá-lo, abraça-lo, ouvir seus contos cantados por sua boca.
Já pensou um carnval sob o seu comando?
Certamente teríamos um astral diferente na cidade.
Ficaríamos esperando para vê-lo entregar uma belíssima chave de Ubatuba ao mais rechonchudo Rei Momo, ao som de marchinhas vibrantes, naturalmente executadas pela Lira Padre Anchieta.
Esse tempero provinciano apaixona os turistas.
Mas, prepará-lo é tarefa para refinados gourmets.
Nessas horas é que notamos com quanta urgência Ubatuba precisa resgatar seus valores, sua tradição, sua história.
Nossa riqueza também está aí.
Somada à natureza maravilhosa dá a fórmula ideal para um turismo de primeira.
Filhinho mostrou o caminho.
Infelizmente já não tem forças para percorrê-lo.
Será porém, eternamente, símbolo maior daquela paixão que todos sentimos por essa terra.
Sua sabedoria, seu talento e suas mensagens deverão estar entre nós e ecoar por todas as gerações vindouras.
Sabemos de sua luz interior.
Que ela permaneça iluminando a todos.
Possivelmente, em algum lugar de seu pensamento deverá estar a sábia frase que, se a sua modéstia não permite concordar, a minha impaciência faz lembrar:
"Se os jovens soubessem...Se os velhos pudessem..."

Ubatuba Sim!
Francisco Gomes