3.4.11

Evitando sereno

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 08 de abril de 2000


Em política conversar é fundamental. Não importa o partido. Não importa nada. O diálogo é a bandeira branca com presença obrigatória no campo das ideias. Quem assim pensa tem bom trânsito com os políticos.
Alguns, naturalmente, conversam desconfiados. Veem com reserva a aproximação. Ouvem com atenção; falam com cautela.
Ainda há aqueles mais soltos. Falam de tudo e de todos. Misturam estações. Confundem-se e confundem; às vezes com intenção, às vezes por vocação. Também existem os verdadeiros. Abrem o pensamento, mostram suas estratégias e não fogem do jogo. Ganham e perdem mas respeitam as regras. São mais raros, mas existem. Portanto, conhecer os tipos gerais da política e conviver com suas diferenças garante o aprendizado para a arte do bom relacionamento.
Seguindo essa linha, recebi Paulo Ramos para uma conversa.
Quando o assunto é política gosto de usar o laboratório da escola. Sinto-me a vontade entre as provetas, os tubos de ensaio e os reagentes químicos de toda ordem. Meu inconsciente deve imaginar que as palavras pronunciadas naquele espaço podem reagir com harmonia e criar algo construtivo.
Esqueci, porém, que se a mistura for inadequada, pode ocorrer explosão.
E foi o que quase aconteceu nesse encontro.
Paulo Ramos, do PFL, questionou minha opção por Vera Coutinho, do PTB, para disputar a prefeitura. Eu lhe disse que era meu dever incentivar o surgimento de novas lideranças, tendo em vista que, se dependesse dos políticos tradicionais, não haveria espaço para ninguém. Ressaltei que para o PTB, uma candidatura própria seria muito conveniente e que Vera, com muito trabalho, vinha ganhando a simpatia dos convencionais. São eles, e mais ninguém, que decidirão, em junho, os nomes dos candidatos petebistas a prefeito e a vereador. Lembrei ainda que a estratégia do PTB regional é expandir o número de filiados, procurando a participação de estudantes, trabalhadores, profissionais liberais e pequenos empresários na política. Além do estímulo dado pela srª Marlene Campos Machado para a estruturação das Associações das Mulheres Trabalhistas em todo o estado de São Paulo que, entre diversos objetivos, quer buscar maior participação da mulher na política. Completei comentando a admirável dedicação de Vera Coutinho na divulgação do Plano Estratégico pelo Desenvolvimento de Ubatuba, que conta com a retaguarda de respeitados especialistas em administração pública e planejamento urbano.
O mal-estar começou quando Paulo Ramos posicionou-se como legítimo representante das novas lideranças e eu discordei.
A história piorou quando, num gesto infeliz, Paulo disse que se o PTB lançar Vera Coutinho, o primeiro a sofrer consequencias seria Marco Antonio Guimarães Leite, Coordenador do Procon e Presidente do PTB de Ubatuba e, em seguida, Celso de Almeida Jr.
Com um tapinha em seu ombro, encerrei a reunião.
Recomendei que esfriasse a cabeça.
Não achei conveniente, num ambiente escolar, mandá-lo ir tomar...sereno.
Poderia se resfriar.
Paulo Ramos tem grande chance de, novamente, ser prefeito.
Seu carisma é inquestionável. Além disso, os inúmeros tropeços de Zizinho causaram a impressão de que certo mesmo seria devolver o governo a Paulo Ramos.
É o tradicional medo do novo.
Para uns, chama-se prudência. Para outros, covardia. Para alguns, há espaço para um nome novo desde que associado a um projeto novo. É isso que me entusiasma em Vera Coutinho. Não importa se ainda tem poucos pontos na pesquisa. Ela tem o direito de participar do debate.
Hoje, mais importante do que quem vai ganhar é descobrir quais as propostas mais sérias e viáveis para gerar trabalho e dignidade para nós e nossos filhos.
Tenho esperança de que Paulo Ramos perceba que ao concorrer com Vera Coutinho estará valorizando uma nova geração de políticos. Já precisou disso no passado e teve em Nélio um bom professor. Se foi bom aluno, não deve me prejudicar. Caso contrário, as consequencias, realmente, serão desastrosas. Paulo é autêntico. Mas da autenticidade ao atrevimento há um fino limite que precisa ser respeitado. Nesse assunto, Paulo e eu temos muito que aprender.
Para ele, entretanto, recomendo um curso intensivo. A campanha se aproxima e conquistar a confiança do eleitorado será tarefa que deverá cumprir com prudência, respeito e humildade.

Jogando com o capeta
Moreira da Silva