24.4.11

Sonhos de Filipe

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 20 de maio de 2000


Na sexta-feira, 12 de maio, um enfarto fulminante tirou a vida de Filipe Nazareno Garcez.
Natural de São Luiz do Paraitinga, poderíamos considerá-lo ubatubense, pois aqui morou 38 dos seus quase 42 anos.
Muita gente só associará o nome a pessoa ao lembrar-se do Filipe Sport's.
Essa foi a marca que batizou a sua loja de artigos esportivos.
Esporte, com absoluta certeza, foi a paixão de sua vida. Futebol, escolinha, campeonatos diversos sempre marcaram o caminho deste jovem batalhador.
Quanta gente contou com o apoio de Filipe ao longo destes anos? Pois é! Muitas vezes, sem poder, ele estendeu as mãos e garantiu a realização dos mais variados torneios nos diferentes bairros de Ubatuba.
E, por seu natural envolvimento com o nosso povo, iria disputar uma cadeira de vereador nas eleições municipais deste ano.
Na Câmara, Filipe seria um bravo defensor das atividades esportivas. Ele, seguramente, conhecia o assunto. Sabia organizar. Sabia dirigir. Sabia impor seu ponto de vista, com a capacidade daqueles que aprenderam fazendo. Nas várias vezes em que conversei com o Filipe, colhi boas impressões. Como cliente, obtive produtos de qualidade, atendimento nota 10 e bons preços. Como companheiro de partido, divergimos algumas vezes, mas nada que abalasse o respeito mútuo. Como cidadão, acredito que deixou bons exemplos. Casado com Ana Maria, pai de Aline, Lilian, Liliane e Filipe Jr, certamente deixou aos filhos a importante mensagem da valorização do esporte.
Nesta hora dolorosa, quando sofremos pela brevidade de sua vida, não podemos esquecer da eternidade de sua mensagem. Para Filipe, o esporte abre as portas para a juventude. Portas da saúde. Portas da beleza. Portas do companheirismo e da inteligência emocional. Para Filipe, o esporte tira a garotada das drogas, do ócio e da solidão.
Quantas vezes, persistente e valente, buscou o apoio de empresários e da prefeitura para os seus projetos esportivos? Quantas vezes ouviu a palavra NÃO? Quantas vezes sonhou com as promessas de políticos?
Lembrar do Filipe é lembrar da infância quando o desejo maior, para muitos, era a chuteira, o par de luvas, a joelheira, enfim, todos os equipamentos de um goleiro incrementado.
Hoje, o fascínio causado pelas vitrines esportivas continua vivo na memória.
E, cá entre nós: quanto marmanjão não faz beicinho se o quadro de camisas não for de primeira linha? E o que dizer dos troféus? Time que se preza não aceita qualquer medalinha.
Esta sensibilidade pelo gosto dos esportistas o Filipe esbanjava. Conhecia a clientela. Estava atento aos fornecedores. Não dormia no ponto. Mas, como empresário, também sentiu a crise. Experimentou a dificuldade do dinheiro curto, do movimento pequeno, dos dribles incansáveis na incerteza dos negócios.
Mesmo assim, repetia: "Jamais abaixar a cabeça, lutar sem parar."
Realmente, a vida é misteriosa.
E, por obra do destino, o coração de Filipe parou num jogo de futebol. Foi a implacável despedida para um amante dos esportes.
Para nós, fica a expectativa de que os sonhos de Filipe sejam perpetuados, gerando lazer e qualidade de vida para um povo desamparado que tem, em homens como ele, a esperança de transformar em realidade seus mais inocentes e saudáveis desejos.

Na Cadência do Samba
Luiz Bandeira
Waldir Calmon