13.8.11

Escolinha descolada

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 12 de outubro de 2000


Dizem que o bom professor leciona até sob a copa frondosa de uma bela árvore.
Quantos mestres temos hoje?
As lembranças da infância voltam com frequência.
Professores rigorosos, educados, português certíssimo, dedicação sacerdotal, moral ilibada.
Quantos deles temos hoje?
Não tínhamos o computador.
Não tínhamos prédios suntuosos.
Não tínhamos os mais belos cadernos nem canetas maravilhosas.
O lápis de cor era tratado como jóia.
O giz de cera, Cadete, durava, durava.
A voz do mestre soava serena e, a postura natural, garantia o respeito necessário para aulas produtivas.
Os tempos mudaram, ótimo.
Chegou a modernidade; sambamos com o computador e a nossa garotada já não aceita qualquer caderninho. Tem que ter capa dura e, se possível, espiral colorida.
O desejo pelo novinho chegou juntamente com o incentivo ao descarte. Troca lápis novo, caneta nova, estojo novo. E troca tudo de novo.
Tudo bem: aumenta o consumo; mais emprego, mais giro.
No fundo, porém, fica a sensação de desperdício e a nítida impressão de estarmos criando jovens perdulários, que terão muita dificuldade em administrar as possíveis crises financeiras, a que todos estamos sujeitos.
E o professor que tocar nesta ferida, hoje, receberá o rótulo de ultrapassado e saudosista. Será naturalmente isolado, como que posto numa prateleira empoeirada.
E os pais?
Bem, estes estão divididos entre saber se o bacana é ser como a turma da novela das sete, ou das oito, ou modernex entrando na onda da hora: sumô, iô-iô, patinô, vermelhô.
E as crianças hiperativas de hoje serão os dirigentes aloprados do amanhã.
Gente a 1000 por hora, correndo de tudo, contra todos, enfiando informação goela abaixo e esquecendo que a busca pelo equilíbrio, o bom senso e o exercício da cidadania mereceria muito mais atenção por parte de todos.
Mas, nem tudo vai mal.
A liberdade de expressão e de comunicação enriqueceu o relacionamento familiar. Muitos tabus caíram. Muita frescura, também.
O resumo da história revela aos dirigentes políticos que serão necessários gigantescos investimentos em educação, em orientação aos pais e mestres e, principalmente, em amparo aos nossos jovens, para a sociedade colher bons frutos daqui a algumas gerações.
Fica a esperança de que no coração do professorado ainda bata o entusiasmo pela mudança e a confiança num amanhã melhor.

To Sir With Love
Lulu