17.9.11

Um do um

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 11 de novembro de 2000


No dia 15 comemoraremos o dia 28.
Repito: em 15 de novembro, Proclamação da República, vamos comemorar o 28 de outubro, Aniversário de Ubatuba.
Já vimos vários desfiles de 28 de outubro. Muitas vezes fez sol. Muitas vezes choveu e nublou. Muitas vezes só nublou. Poucas vezes só choveu. Das 25 vezes em que eu participei recordo-me de só uma transferência para o dia seguinte, devido a um chuvão bravo. Nas diversas vezes em que amanheceu chovendo, existiu a prudência de aguardar um pouquinho para não expor a criançada à molhação. Era o que bastava. Já presenciei atrasos de até duas horas para o início do desfile. Normalmente, a chuva encolhia, virava garoa, parava, nublava e o mormaço segurava o céu carregado até o meio da tarde. Nesta hora, toda a cidade já tinha desfilado e almoçado, bastando apenas ouvir a volta do aguaceiro, roncando.
Eh, Zizinho! Custava esperar um pouquinho?
Por que não usou a rádio com uma declaração do tipo: "Informo aos ubatubenses que em função das fortes chuvas decido tranferir o início do desfile das 9h para as 10h30m. Se neste horário continuar chovendo não me restará alternativa a não ser cancelar o desfile e mudá-lo para...amanhã. Ou, depois de amanhã. Ou, sexta que vem. Ou, sábado que vem."?
Mas, para o dia 15?!!
Quem caprichou no carro alegórico, encheu bexiga, mobilizou a garotada sabe o drama que é repetir a dose. Até aí, tudo bem. Mas com quase vinte dias de atraso é demais. E tem mais. A diferença simbólica do 28 de outubro com o 15 de novembro é justamente a manifestação popular. O entusiasmo com o 28 é espontâneo. Desfilamos, demonstrando carinho pela cidade que nos acolhe. Já o 15 é forçado. Não é a toa que deixamos de comemorá-lo. É certo que a Proclamação da República foi importante. Mas, para ilustrar o desinteresse popular com a data, nada melhor do que um trechinho de Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico Raízes do Brasil:
"É curioso notar que os movimentos aparentemente reformadores, no Brasil, partiram quase sempre de cima para baixo: foram de inspiração intelectual, se assim se pode dizer, tanto quanto sentimental...Os campeões das novas ideias esqueceram-se, com frequência, de que as formas de vida nem sempre são expressões do arbítrio pessoal, não se fazem ou desfazem por decreto. A célebre carta de Aristides Lobo sobre o 15 de novembro é documento flagrante do imprevisto que representou para nós, a despeito de toda a propaganda, de toda a popularidade entre os moços das academias, a realização da ideia republicana: Por ora - dizia o célebre paredro do novo regime - por ora a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu aquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava." (Raízes do Brasil, pg 119, 12ª edição).
Daí o 28/10 virar o 15/11 tem tudo a ver com o Zizinho, não é mesmo? Ninguém melhor do que ele para desprezar vontade popular e valorizar desejo de minoria. Foi o que conseguiu fazer em seus quatro anos de governo. Mesmo assim, devo ressaltar que há, pelo menos, um aspecto positivo nesta mudança. Quem sabe voltamos a comemorar estas enjoadas datas cívicas? Para a garotada é bom. Ocupa o tempo. E, numa cidade turística, tais movimentos entusiasmam os visitantes.
Mas proclamação é proclamação, aniversário é aniversário, descobrimento é descobrimento, natal é natal.
Mais um aninho no comando e o Zizinho faria D.Pedro I vir de Papai Noel; Deodoro vir de Jordão Homem da Costa; Cunhambebe vir de Cabral e por aí vai. É demais! Além de bagunçar a cidade, agora quer bagunçar a história? Salve 1/1/2001.

Plunct, Plact, Zum!
Carimbador Maluco
Raul Seixas